quarta-feira, 30 de novembro de 2011

vou além de papai

vou além de papai. olhei minha cara e deixei-a morta parada - eis papai, ali quase que renascido. é um homem frio. desde sempre foi, diziam-me que até quando fora menino, parecia que tinha um rosto esculpido em madeira, ou em gelo dependendo do momento. porém eu não era assim, não era de madeira feito papai, por mais que de inicio parecesse, tinha muitos sorrisos - e todos escandalosos de felicidade. não sei, será que incomodei alguém com isso ?
papai não gostava, não gostava de nos ver dispersos, queria-nos sérios e retos. torno a me olhar : não sou sério coisíssima nenhuma; e rio um pouco - como sempre fiz. papai não sabe mesmo, acho que não se interessa - não deve ter ideia daquilo que gosto muito. meu rosto é tão parecido com o dele, posso modelar-me e parecer papai, a voz é um tanto mais grossa, é só forçar um pouco que já posso confundir em casa.

sou outro. por mais que digam da aparência, e da essência inconsciente que há em mim, vou atrás da existência, daquilo que amo. não sou seguro, nem maduro - deus do céu - maduro muito menos ! mas posso dizer que não sou papai - e a verdade é que esses sentimentos familiares e dependências já se foram faz tempo, eu os retirei de mim para me descobrir. foi preciso pra mim, acho que deve ser pré requisito para a liberdade :



caminho, vou-me, volto-me, finjo
e falo a verdade que é preciso
é preciso caminhar-se
sobre si, entre si mesmo
descobrir-se como num filme

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