quarta-feira, 30 de novembro de 2011

vou além de papai

vou além de papai. olhei minha cara e deixei-a morta parada - eis papai, ali quase que renascido. é um homem frio. desde sempre foi, diziam-me que até quando fora menino, parecia que tinha um rosto esculpido em madeira, ou em gelo dependendo do momento. porém eu não era assim, não era de madeira feito papai, por mais que de inicio parecesse, tinha muitos sorrisos - e todos escandalosos de felicidade. não sei, será que incomodei alguém com isso ?
papai não gostava, não gostava de nos ver dispersos, queria-nos sérios e retos. torno a me olhar : não sou sério coisíssima nenhuma; e rio um pouco - como sempre fiz. papai não sabe mesmo, acho que não se interessa - não deve ter ideia daquilo que gosto muito. meu rosto é tão parecido com o dele, posso modelar-me e parecer papai, a voz é um tanto mais grossa, é só forçar um pouco que já posso confundir em casa.

sou outro. por mais que digam da aparência, e da essência inconsciente que há em mim, vou atrás da existência, daquilo que amo. não sou seguro, nem maduro - deus do céu - maduro muito menos ! mas posso dizer que não sou papai - e a verdade é que esses sentimentos familiares e dependências já se foram faz tempo, eu os retirei de mim para me descobrir. foi preciso pra mim, acho que deve ser pré requisito para a liberdade :



caminho, vou-me, volto-me, finjo
e falo a verdade que é preciso
é preciso caminhar-se
sobre si, entre si mesmo
descobrir-se como num filme

terça-feira, 15 de novembro de 2011

amor temperado de novembro

por algum motivo, acho que talvez um vício... escrevi mais um soneto - uma consequência de feriado solitário. é o delírio trazido pra minha casa, esse lugar infestado de lembrança, de um ar poluído de espíritos loucos. alguém esta cantado aos meus ouvidos, são sopros, guitarras, vômitos e caríceas. as imagens correm, bem rapidinhas, deixam-me rodopiando - me sustentando no ar. Seguram-me pelas costas, parecem a maré de lagoa, muito tranquila. Debruçam-me no colchão inflável e :



deito-me saudoso. pés gelados, livros abertos
copos vazios. a minha esperança aconchega
a cabeça que pensa bastante em você a beira
de um rio comprido bem bonito, numa sexta feira


meus dias de dencanso demorarão muito tempo
mas eu irei te buscar de qualquer jeito, talvez
quando passe a tempestade, querida - daqui um mês
espere-me perto do lugar onde nos conhecemos


ao menos diga então que sente ainda um pouco de sentimento
que o ligeiro momento valeu-te um amor
um forte amor temperado de novembro


fecho os olhos, espero que não os abra tão cedo
pra sonhar contigo e sentir seu sabor
aquele sabor que perdura, que venho de seus beijos

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

poesia e cansaço



o cansaço sempre nos vence - somos todos uns poetas cansados
admitam-o, - que quando a noite cai, suas mentes passeiam
devastando as mais incríveis paisagens solitárias, vagueiam
num abismo longínquo. seu momento desvirtuado


deixe estar - nas suas mãos brilham muito, simbólicas
caem pelo ar, passam pelo céu e o mar
ficam instigadas querendo se soltar
essa noite de terríveis hemorragias e cóleras


vai desprender-se de ti - vai desprender-se de ti
dái que seus olhos atiram, e nada está mais ali
ficais a procurá-los em todos os lados, não pertence a esse mundo


os cobertores balançam questões surgindo nubladas
acompanhadas de lembranças cálidas, o vento desenfreado
faz nascer o dia, a incerteza, trabalho. poesia e cansaço

sábado, 12 de novembro de 2011

desviver no espaço

estou um bocado mais nauseado, quase nada contente. as coisas têm sido graves, de verdade - extrapolaram
ficaram selvagens. frases e imagens machucam a gente, perdemos o chão, perdemos identidade. ganhamos uma distância da realidade. passeamos solitários na estratosfera de planetas não povoados. estamos inconformados, não sabemos nos explicar. eu não sei dizer mais nada.






quer que eu grite meu choro em algum lugar?
não entendo minha vida - passea num deserto
ja tive muita insônia e a sensação de um inseto
uma noite quase esclarecida manchada no ar


um diálogo com a consciência me faz pensar que caminho para a loucura
sem voltas para a humanidade. estão se desfazendo uma porção de homens
e quanta gente está gritando nessa sociedade - estão a procura de uma cura
para suas não mais discretas mânias, suas profissões doentias - eles não dormen


estou jazindo naquele chão de cor esquisita
mas há um som esquisito nessa sala de jantar
ou será os escândalos lá fora daqueles niilistas
eles não param, não param de chorar e chorar


estão tristes - estão todos muito tristes a espera do profeta que traga consigo o amor. esse amor que nos deixa derretido, com a sensação virtuosa de seguir na vida. vamos teimando em esperar, vamos trabalhando esperando, comendo esperando - vislumbrado uma bela entrada, as primeiras palavras desse messias.


não estou chorando tanto
sequer espero alguém
estava nas nuvens, distraído
com alguma mulher, 
num sonho qualquer


você faz o que quer
quer comer, quer esperar
quer punir, quer sangrar
faça-o sem hesitar


e você chora depois de tudo, sempre triste e aflito pelas escolhas que fez. teu futuro é chorar? será? porque então acusaste tanta desgraça, e agora é isso que vês no espelho - um lamento. quer flores para se enterrar, nunca mais voltar, descançar um pouco, virar um tronco de árvore  seco, sem lágrimas - desviver


cortarão as árvores
quanto cansaço
não te resta mais nada
a não ser o espaço